O Benfica. David ou Golias?
Malcom Gladwell escreveu um livro chamado “David e Golias” e nele encontra-se uma possível explicação para o que aconteceu no futebol Portugal nos últimos 30 anos. A principal tese deste livro é que, em qualquer batalha, o lado que é maior, que tem mais armas, que é mais alto, mais rápido e mais forte põe-se numa posição vulnerável perante um adversário pequeno e sem nada a perder. A superioridade de ser maior é uma ilusão.
No livro estão muitas estórias e uma das minhas preferidas é a de uma equipa de basquetebol em que os jogadores eram todos pequenos e que nem sequer sabiam propriamente jogar basquetebol. Inacreditavelmente, esta equipa ganhou os jogos todos até chegarem à final do campeonato estadual nos states. Como?
Eles sabiam que nunca poderiam ganhar com as mesmas armas, que nunca poderiam jogar o jogo pelo jogo e ganhar um jogo que fosse. Confrontados com a certeza de simplesmente perderem os jogos todos, treinadores e jogadores propuseram-se a fazer o impossível. Treino fisico incessante até que todos os jogadores conseguissem fazer pressão a campo inteiro 100% do tempo e passar o tempo a obrigar o adversário a violar regras dos 5 segundos ou a perder a bola debaixo da sua tabela. Poderia uma equipa de basquetebol de jogadores de topo fazer isto? Claro que não! Teriam na cabeça que podem ganhar jogos com a sua técnica maravilhosa, que podem dar nota artística, que podem fazer jogadas espectaculares - que não é assim que uma equipa “grande” ganha jogos. É a mesma idea por trás de o Chelsea ter ganho a liga dos campeões com um tactica que embaraçou os puristas do futebol.
Nem sequer seria possível convencer bons jogadores de basquetebol a treinar o suficiente para se aguentar pressão a campo inteiro o jogo todo.
A humildade para se treinar o dobro e para se passar horas a trabalhar uma tactica para uma missão impossível só poderia vir de uma equipa sem nada a perder.
Esta é uma lição que os corruptos nunca esquecem. Eles ganharam 70% dos ultimos 20 anos mas mantêm a humildade de quem não tem nada a perder. Principalmente fora de campo, eles continuam a trabalhar muito mais que nós para ganhar jogos. Corromper, dopar, comprar adversários, usar a violência (etc), são tudo estratégias que só um não-favorito imaginaria.
Principalmente, o Benfica continua a proporcionar-lhes esta imagem de que é o maior, de que é favorito. É que esta imagem de grandiosidade parece impedi-nos de trabalhar como desesperados, como só faria alguém sem nada a perder. O Benfica continua a ter que ouvir que uma equipa “como o Benfica” tem que jogar sempre com 2 pontas de lança, por exemplo.
Na realidade, o Benfica só pode olhar para o campeonato como uma prova onde é esmagadoramente não favorito. Onde é quase impossível ser campeão.
A grandeza da nossa história só tem que servir para justificar o esforço sobre humano que é lutar no campeonato mais corrupto da história do futebol mundial.
Para quem ainda não percebeu, o Benfica é o clube do povo, e este povo já não tem nada a perder. Este povo já trabalha que nem um desesperado. Do que estás à espera para fazeres jus a tão nobres origens, Benfica?
Ó Vitor Paneira, diz lá como é que um verdadeiro campeão lida com a grandeza:
“No meu tempo, nós encarávamos os jogos como uma guerra.”
PS: Obrigado ao blog Ontem vi-te no estádio da luz pela entrevista com o Vitor Paneira.
PS: companheiros do blog, não se preocupem que a parvoice continua já a seguir.
PS: companheiros do blog, não se preocupem que a parvoice continua já a seguir.
Mats,
ResponderEliminarQueres um dado curioso? Da maioria dos avançados mundiais, tem-se verificado que aqueles que joguam melhor de cabeça são os avançados mais pequeninos. Porquê? Talvez porque como sabem que têm essa dificuldade, trabalham mais que os outros para conseguirem melhorar... o que conseguem por atingir!
Lembrei-me deste dado quando li o teu parágrafo da equipa de basquetebol...
Abraço