sábado, 5 de abril de 2014

O Manuel e o exílio no meio campo do Benfica





Quando o Manuel tinha 14 anos, os seus amigos começaram a reunir-se todos os dias depois das aulas num café, debaixo das arcadas. O Manuel, como tinha que ajudar o pai na loja, nunca podia ir. Fodido ficava, porque aquele café era onde acontecia toda uma vida que lhe escapava. Cada dia passado no seu exílio forçado, os amigos ficavam menos amigos e as miúdas menos miúdas. As estórias só lhe chegavam com atraso, que é como quem diz, não chegavam. Malfadado destino que o condenava ao exílio diário, dizia para si próprio. Bastardo!

Muitos anos passaram até que um dia o Manuel, já cansado de mais um dia sem trabalho e farto da vida que o agarrava, voltou a esse café debaixo das arcadas. Já não estavam lá as mesmas caras. Pensou que já não havia tempo para exílios e bastardos. Tudo estava mais calmo, mais lento, mais pesado. Pesada a herança de um mundo que tinha passado sem ele, ali, debaixo das arcadas. Mais indiferente que agastado, procurou uma mesa vazia e sentou-se. Tantas mesas vazias, bastardos! O Manuel veio para ver um jogo do seu clube de sempre, o Benfica, com os seus amigos de antigamente, outros Manéis e Mários.

E por breves 90 minutos, entre sorrisos e amores antigos, o Manuel exilou-se naquele café, mesmo ali no meio campo do Benfica, por debaixo das arcadas.

2 comentários:

  1. E quando o café se transforma em campo de futebol e os benfiquistas se unem em torno de uma chama, a magia acontece. Parabéns Mats! Quem será o Manuel?

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Insultem e javardem para aí. Mas se sujarem isto depois limpam, ok?