O Benfica não joga sozinho

Imagine.

Imagine só o que seria um campeonato em que 2 terços das equipas fossem treinadas ou presididas por ex-glorias do Benfica. Humberto, Toni, Álvaro Magalhães, Preudhome, Mozer, Helder, Sheu, Pietra, etc. E agora imagine que estes só tinham ganho o lugar precisamente por serem do Benfica e porque o Benfica tinha feito pressão para os por nos seus lugares. E agora imagine que contra o Benfica eram jogos de treino e contra o Porto tinham todos prémios de jogo a triplicar. Contra  o Benfica as suas conferencias de imprensa nem apareciam nos jornais, contra o Porto era só videos de motivação, murros na mesa, etc. Contra o Benfica a relva estava sempre ali cortadinha e molhada, contra o Porto a relva não se cortava durante duas semanas e rega nem ve-la.

Imaginem que o presidente da Federação era Manuel Vilarinho.

Imagine que todos os jogos fora do Porto fossem arbitrados por árbitros da AF de Lisboa. AF essa que teria o Pedro Guerra como presidente a decidir que árbitros sobem de escalão e ficam milionários, ou passem a vida na segunda divisão. Imagine que o Porto não tinha um penalty assinalado a seu favor no estádio da Luz num jogo competitivo desde 1975.

Imagine que o orçamento do Benfica fosse superior ao do Porto.

Nesta situação imaginária, imagine que o Porto conseguisse em 6 anos ter ganho 2 campeonatos e estivesse quase a ganhar o terceiro sempre com o mesmo treinador. Imagine que o Porto conseguisse estar sempre na luta pelo campeonato com uma % de pontos ganhos altíssima. Imagine que o Porto jogasse um futebol de espectáculo onde se marcam muitos golos e sofrem poucos. Imagine que apesar de tudo os campeonatos fosse sempre equilibrados. Nesta situação imaginária, como adepto do Benfica podem ter a certeza que eu queria o treinador do Porto o mais rapidamente possível dali para fora.

Imagine que, vendo-se nesta situação, os adeptos do Porto enchem fóruns a queixar-se que o treinador deles é um borrado, que tem pé frio, que não sabe escolher jogadores, que deixa fugir pérolas, etc. OK, este último cenário  nem eu consigo imaginar. Demasiado inacreditável. Esqueçam este último cenário.

Voltando à realidade.

Em 6 anos de JJ, em 5 o Benfica lutou até ao fim pelo campeonato, mesmo que o Porto tenha um plantel de melhor ou de semelhante qualidade, controle 2 terços das equipas do campeonato e domine quase toda a arbitragem e imprensa.  Em 6 anos o Benfica ganhou o campeonato 2 vezes e pode ganhar o terceiro este ano. Mesmo que o Porto ganhe o campeonato este ano, será mais um ano em que o Benfica equilibrou a luta pelo campeonato até ao fim.

Ter Jorge Jesus no Benfica é nivelar uma competição desnivelada estruturalmente. Com planteis equiparáveis, é suposto ser fácil o Porto ganhar. Mas desde que JJ entrou, deixou de ser.

Houve um ano em que este desnível estrutural não existiu, o ano do Apito Dourado. Por motivos óbvios o desnível extra-futebol a favor do Porto desapareceu. Nesse ano de 2005, com um plantel inferior ao Porto, até deu para o Benfica ser campeão com 7 derrotas e 8 empates. Em 2013, com JJ, o Benfica perdeu o campeonato com 1 derrota o ano todo.

Num ano em que haja um novo Apito Dourado, se JJ estiver no Benfica somos campeões em Março.

Jorge Jesus já mostrou que tem capacidade para nivelar o que era suposto ser extraordinariamente desnivelado. Coisa que só mesmo o Apito Dourado conseguiu fazer.

É aproveitar.